domingo, 18 de maio de 2008

''Passado''

Passado
"Antes o voo da ave, que passa e não deixa rasto,
que a passagem do animal, que fica lembrada no chão.
A ave passa e esquece, e assim deve ser.
O animal, onde já não está e por isso de nada serve,
mostra que já esteve, o que não serve para nada.
A recordação é uma traição à natureza,
porque a natureza de ontem não é natureza.
O que foi não é nada, e lembrar é não ver.
Passa, ave, passa, e ensina-me a passar!"
Fernando Pessoa
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O poeta português Fernando Pessoa foi eleito uma das 50 personalidades que mais influência teve na Cultura europeia, ao lado de nomes como da Vinci, Mozart e Einstein, revelou o Bureau Internacional das Capitais da Cultura.
Este foi o resultado de uma votação de âmbito universitário promovida pela organização da Capital da Cultura Catalã em vários países europeus.
Um total de 137.622 pessoas do continente europeu participaram neste inquérito que decorreu durante nove meses.
Entre os eleitos, que se destacaram nas áreas das Humanidades, Artes e Ciências encontra-se para além Fernando Pessoa, Leonardo da Vinci, Shakespeare, Mozart, Einstein, Sócrates, Goethe, Galileu Galilei, Carlemany, Erasme de Roterdão e Dostoievski.



sexta-feira, 16 de maio de 2008

Guernica 3D

GUERNICA. um vídeo que é fascinante: a obra Guernica, de Picasso, como nunca antes foi vista.


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quarta-feira, 14 de maio de 2008

A NOITE

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Escrever, por exemplo:
"A noite está estrelada,e tiritam, azuis, os astros lá ao longe".
O vento da noite gira no céu e canta.

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Eu amei-a e por vezes ela também me amou.
Em noites como esta tive-a em meus braços.
Beijei-a tantas vezes sob o céu infinito.

Ela amou-me, por vezes eu também a amava.
Como não ter amado os seus grandes olhos fixos.
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Pensar que não a tenho. Sentir que já a perdi.

Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ela.
E o verso cai na alma como no pasto o orvalho.
Importa lá que o meu amor não pudesse guardá-la.
A noite está estrelada e ela não está comigo.

Isso é tudo. Ao longe alguém canta. Ao longe.
A minha alma não se contenta com havê-la perdido.
Como para chegá-la a mim o meu olhar procura-a.
O meu coração procura-a, ela não está comigo.

A mesma noite que faz branquejar as mesmas árvores.
Nós dois, os de então, já não somos os mesmos.
Já não a amo, é verdade, mas tanto que a amei.
Esta voz buscava o vento para tocar-lhe o ouvido.

De outro.
Será de outro.
Como antes dos meus beijos.
A voz, o corpo claro.

Os seus olhos infinitos.
Já não a amo, é verdade, mas talvez a ame ainda.
É tão curto o amor, tão longo o esquecimento.
Porque em noites como esta tive-a em meus braços,
a minha alma não se contenta por havê-la perdido.

Embora seja a última dor que ela me causa,
e estes sejam os últimos versos que lhe escrevo.
PABLO NERUDA
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