sexta-feira, 4 de julho de 2008

    SE NÃO ESTIVESSES .


    SE NÃO ESTIVESSES
    Se não estivesses ,
    se a concha dos teus dedos não fizesse vibrar em mim ,
    gota a gota,a tua voz,
    se não esticasse os braços sobre um qualquer espaço
    que nunca será nosso,
    se o teu sorriso agora distendido não se mostrasse todo nos gestos do amor,
    se a tua mão não procurasse a minha,
    ou os meus dedos não pudessem ,
    ainda que ao leve ,tocar a ponta frágil dos teus cabelos escuros
    se eu não encontrasse em ti o meu olhar,às vezes ,
    quando finjo que não vejo o teu olhar em mim
    se os dias não fossem confortados com a ideia de que existes
    sensivelmente e que , por isso ,
    de alguma forma eu sou em ti a minha forma de existir
    sensivelmente existes,
    e que por isso , de alguma forma,eu sou em ti a minha forma de existir
    estas palavras,as frases que as expõem, o poema em que tudo se articula,
    no intimo sentido que só exista dentro do poema tudo o que é ainda,
    o que possa caber em noz secretamente seria uma triste passagem
    pelo que resta e nem os meus olhos,
    e nem as minhas lágrimas diriam o que dizem
    porque a mão que escreveu,
    o seu último argumento,
    esta na concha dos teus dedos e no gemido que atraiçoa a tua voz
    { poema de António Mega Ferreira}