quinta-feira, 1 de julho de 2010

    "QUASE UMA NATUREZA MORTA"


    Um braço de rio que se solta da margem os ramos
    prolongam, na água, a nostalgia de terra. A pureza
    da luz não atravessa a superfície para se perder
    num fundo que não se adivinha (ali, onde a corrente
    faz saltar as espumas do centro, ninguém se aventura
    - mesmo que as pedras separem o curso branco
    das águas). «Que é isto?», perguntas. A parábola
    capital a tua vida cortada ao meio, como se não
    houvesse uma direcção única a prosseguir até ao
    fim. «Nem no amor?» Porém, a tarde traz consigo
    o frio, a visão transparente dos montes, e até
    o canto dos pássaros parece mais nítido, como se
    nenhuma outra vibração o contaminasse. Respiro
    contigo o conhecimento da realidade mesmo que ele
    passe pela descoberta de outra vida, pelo contacto
    entre duas solidões, ou apenas por uma breve
    hesitação antes que os lábios se toquem, levando
    um e outro a saltar a outra margem - a mais abstracta
    a que apenas separa um corpo de outro corpo e,
    por cima disso, define os limites da razão e do sentimento.

    "POR AQUI"
    .««OBS, NA IMAGEM FOZ DO RIO NEIVA»»
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