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quinta-feira, 19 de agosto de 2010

A Noite .




Mais uma vez encontro a tua face,

Ó minha noite que julguei perdida.



Mistério das luzes e das sombras

Sobre os caminhos de areia,



Rios de palidez que escorre

Sobre os campos a lua cheia,



Ansioso subir de cada voz

Que na noite clara se desfaz e morre.



Secreto, extasiado murmurar

De mil gestos entre a folhagem



Tristeza das cigarras a cantar.



Ó minha noite, em cada imagem

Reconheço e adoro a tua face,

Tão exaltadamente desejada,

Tão exaltadamente encontrada,

Que a vida há-de passar, sem que ela passe,

Do fundo dos meus olhos onde está gravada.



«Sophia de Mello Breyner Andresen»
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