sábado, 21 de agosto de 2010

    Maldição - Amália Rodrigues em 1958, De vez em quando a vida convida a um recuar no tempo.




    Que destino ou maldição
    Manda em nós, meu coração,
    Um do outro assim perdidos?
    Somos dois gritos calados,
    Dois fados desencontrados,
    Dois amantes desunidos!

    Por ti, sofro e vou morrendo,
    Não te encontro, nem te entendo,
    A mim, digo sem razão:
    Coração, quando te cansas
    Das nossas mortas esperanças?
    Quando paras, coração?

    Nesta luta, nesta agonia
    Canto e choro de alegria
    Sou feliz e desgraçada!
    Que sina tua, meu peito!
    Que nunca estás satisfeito,
    Que dás tudo e não tens nada!

    Na gelada solidão,
    Que tu me dás, coração,
    Não é vida, nem morte;
    É lucidez, desatino,
    De ler no próprio destino,
    Sem poder mudar-lhe a sorte.

    «Armando Vieira Pinto»

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