quarta-feira, 7 de abril de 2010

    "FLORES"


    Se com flores se fizeram revoluções
    que linda revolução daria este canteiro!

    Quando o clarim do sol toca a matinas
    ei-las que emergem do nocturno sono
    e as brandas, tenras hastes se perfilam.
    Estão fardadas de verde clorofila,
    botões vermelhos, faixas amarelas,
    penachos brancos que se balanceiam
    em mesuras que a aragem determina.
    É do regulamento ser viçoso
    quando a seiva crepita nas nervuras
    e frenética ascende aos altos vértices.

    São flores e, como flores, abrem corolas
    na memória dos homens.

    Recorda o homem que no berço adormecia,
    epiderme de flor num sorriso de flor,
    e que entre flores correu quando era infante,
    ébrio de cheiros,
    abrindo os olhos grandes como flores.
    Depois, a flor que ela prendeu entre os cabelos,
    rede de borboletas, armadilha de unguentos,
    o amor à flor dos lábios,
    o amor dos lábios desdobrado em flor,
    a flor na emboscada, comprometida e ingénua,
    colaborante e alheia,
    a flor no seu canteiro à espera que a exaltem,
    que em respeito a violem
    e em sagrado a venerem.

    Flores estupefacientes, droga dos olhos, vício dos sentidos.

    Ai flores, ai flores das verdes hastes!
    A César o que é de César. Às flores o que é das flores.

    «António Gedeão»
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